Era noite de verão quando ela arrumava suas malas. Decidira voltar pra vila que morava, ela precisava.
Sentia que a viagem que fizestes em pró do seu objetivo era grandiosa, mas só desenvolver sua pesquisa sobre mentes doentias em corpos saudáveis já não era suficiente, ela não sentia uma evolução tão grande no seu projeto como sentia a evolução da sua doença.
A sua cabeça já era um manto de incertezas, insegurança e falta de esperança. Seu sonho tornara-se inútil. A doente agora era ela, e esta precisava de cura.
Saiu de sua cobertura num Flat de frente pro mar, fechou suas contas, e botou suas mochilas num táxi indo direto para a rodoviária.
Chegando lá ainda faltavam 30 minutos para a saída do ônibus com destino à vila na canoa.
Ficou a tomar um mate com leite gelado e observar uns casais de mãos dadas na pracinha em frente ao estacionamento. Todos sorrindo, todos felizes, todos acompanhados de alguém que os faziam sentir a si mesmos.
Começou a imaginar como seria sua recepção, ou ao menos se ainda haveria lugar para ela se abrigar depois de tantos anos de ausência.
Uma lágrima caiu.
Mas neste dia foi apenas uma.
Até então.
A sirene tocou e anunciou o embarque do rotativo 0202.
Era chegada sua hora. Agora ela iria voltar de onde veio.
Foram 10 horas de viagem e ela não conseguia expressar nada, nem dormir, nem comer... Apenas ficava a imaginar como estariam as coisas agora. Se elas ainda existiam e como estariam diferentes as casinhas perto da lagoa.
Ela acordou com os freios e a porta abrindo. Tinha cochilado, e agora as 4 da manhã, enfim havia chegado.
Desceu e pegou suas malas indo direto pro trenzinho que partiria naquele instante em direção ao centro.
Soltou em frente à Igreja de Nossa senhora da Saré. Ah aquela catedral...
Foram tantas risadas atrás dali, tantas conversas, tantos sorrisos..
A saudade e as lembranças vieram a tona. Se não fosse 4:20 da madrugada ela sairia a gritar pela ruela.
Gritar não pôde, mas correr..
Quem impediria uma Garota com uma mochila e duas malas de sair correndo em busca do seu verdadeiro sonho?
Três batidas, um arranhão e nada mais. Isso era o necessário para fazer presente e reavivar o canal.
3 Minutos se passaram e a aflição tomou conta de si. A porta não abria.
Não havia mais ninguém lá?
Sabiam que era ela?
Não a queriam lá?
Então mais três batidas e quando iria lançar o arranhão a porta se abriu.
Silêncio.
Ela entrou, colocou suas malas ao chão da cozinha, sentindo aquele cheiro de vida foi direto ao quarto central e sentou a esquerda da cama. A sua esquerda da cama.
O silêncio permanecia e agora Ele olhava para Ela.
Por súbita reação ela gritou.
Foi algo que mordeu o seu dedinho da mão, algo esse que foi identificado como um filhotinho de labrador.
- Ágata! Pare com isso, já disse que não pode morder tudo o que vê.
O clima de suspense foi quebrado e agora o que se tinha no ar era confusão.
Ágata? Quando ele comprara aquele cachorro? E como ele foi colocar esse nome?
- Meu amor? Quem é essa? Porque colocastes esse nome? Tão ocupado e ainda se dispôs a cuidar dela? Não entendo..
Ela pôs-se a toca sua face e dela corria uma gota quente e serena...
- Você foi em busca dos seus sonhos, seus objetivos, passaram-se dois anos e não desdes sinais de que voltaria. Eu precisava de alguém pra suprir essa falta que você me faz, para brincar comigo, para me fazer sorrir, para eu brigar, para me dar motivos de seguir, para eu dedicar o meu amor. Alguém que estivesse aqui comigo.
Eles se abraçaram e agora ela só fazia sorrir. Um riso contido e apaixonado. Um riso de quem descobrira que Ele era seu principal objetivo, era Ele, só Ele quem a fazia se sentir feliz e amada. Acariciou seu rosto, delineou seu lábios e depois de um beijo profundo olhou em seu olhos e disse:
- Eu estou aqui.